A SAF do Botafogo: Entenda Como Foram os Acontecimentos.

Botafogo SAF

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A transformação do Botafogo em Sociedade Anônima do Futebol (SAF) marcou um ponto de virada na história do clube. Desde a proposta inicial até a situação atual, o processo envolveu diversas etapas, desafios e estratégias financeiras. Entenda como foram os acontecimentos relacionados à SAF do Botafogo.

Proposta Inicial e Negociações com o Conselho Deliberativo

A mudança de um clube estatutário para SAF não é simples; envolve vários passos, negociações e preocupações de ambos os lados. Com isso, os interesses do clube e dos investidores precisam ser considerados e negociados, assim como o gerenciamento de passivos, ativos e credores. Isso não foi diferente no Botafogo, a proposta de transformar o Botafogo em SAF foi anunciada em dezembro de 2021, com o empresário John Textor sendo apresentado como o novo acionista majoritário. O acordo entrou em vigor em abril de 2022, concedendo a Textor 90% das ações do Botafogo, enquanto o clube social manteve os outros 10%.

As negociações com o Conselho Deliberativo foram fundamentais para a aprovação do acordo. Em janeiro de 2022, o presidente Durcesio Mello e John Textor assinaram o acordo vinculante, que foi submetido à deliberação do Conselho Deliberativo e à Assembleia Geral. Contudo, durante esse período, foram realizados plantões de dúvidas para os conselheiros, com sessões de videoconferência para esclarecer todos os pontos do acordo. As cláusulas contratuais, incluindo mecanismos de lock-up e direitos de preferência, foram discutidas em detalhes, embora algumas informações tenham sido mantidas sob sigilo contratual[1].

Negociações de Cláusulas Contratuais

As negociações de cláusulas contratuais foram um ponto crítico do processo, pois os interesses tanto do clube quanto investidor foram colocados na mesa de negociação. Entre as cláusulas discutidas, em suma destacam-se três:

  1. Lock-Up: Condições que impedem a venda de ações por parte do investidor por um período determinado.
  2. Direito de Preferência: Condições sob as quais o clube pode adquirir ações do investidor em caso de venda.
  3. Transferência de Controle: Restrições aplicáveis à transferência de controle acionário da SAF pelo investidor.

Essas cláusulas foram objeto de extensa discussão com o Conselho Fiscal do clube para garantir a proteção dos interesses do Botafogo. Portanto, nos deparamos com um processo moroso, o que é normal para um negócio deste tamanho, envolvendo milhões de reais.

Gerenciamento da Dívida.

A gestão das dívidas foi um dos principais desafios enfrentados pela SAF do Botafogo. O clube no primeiro momento trabalhou com o RCE (Regime Centralizado de Execuções), que centraliza todas as execuções contra a associação devedora em um único processo, sob a supervisão de um juiz centralizador. Esse juiz é responsável por aprovar um plano de pagamentos e garantir seu cumprimento. A SAF deve destinar pelo menos 20% de suas receitas mensais para pagar os credores dentro do RCE. Não conseguindo seguir adiante com a homologação do RCE, o clube buscou a alternativa da Recuperação Extrajudicial que permite que a empresa em dificuldades financeiras negocie diretamente com seus credores um plano de recuperação, sem a necessidade de intervenção judicial. Esse plano deve ser aprovado por credores que representem mais de 60% dos créditos de cada classe envolvida. Veja cronologicamente como isso ocorreu no Botafogo:

  1. Regime Centralizado de Execuções (RCE):
    • O Botafogo aderiu ao RCE para reestruturar suas dívidas trabalhistas e cíveis. O RCE permitiu a centralização das dívidas em um único processo, facilitando a administração e o pagamento de forma escalonada.
    • Em dezembro de 2023, o clube entrou em acordo com a comissão de credores trabalhistas e a Justiça do Trabalho para homologar um novo acordo no RCE, prevendo o pagamento das dívidas trabalhistas em 10 anos.
  2. Recuperação Extrajudicial:
    • Em 2024, o Botafogo apresentou um pedido de homologação de seu Plano de Recuperação Extrajudicial perante a Justiça do Rio de Janeiro. O plano buscava um novo fluxo de pagamentos para os credores cíveis quirografários, substituindo os pagamentos do RCE, que se mostrou incapaz de trazer uma solução definitiva.
    • O plano de recuperação extrajudicial foi aprovado pela maioria dos credores, permitindo ao clube negociar descontos significativos e prazos mais longos para pagamento.

E ai, Deu Certo ? Qual Resultado da SAF ?

Em março de 2025, o Botafogo completou três anos de SAF, acumulando quase R$ 1 bilhão em investimentos. O clube teve um crescimento de 210% em valuation, sendo avaliado em R$ 1,85 bilhão. Apesar dos desafios financeiros, a SAF conseguiu reduzir as dívidas do clube social em mais de R$ 300 milhões.

A transformação em SAF trouxe resultados esportivos significativos, incluindo a conquista de títulos incluindo a Copa Libertadores. No entanto, o grupo de John Textor, que inclui o Botafogo, apresentou um prejuízo de R$ 723 milhões no primeiro semestre da temporada 2024/25. A redução das dívidas gerais do grupo é um passo positivo, mas ainda há um longo caminho para estabilizar completamente as finanças.

Conclusão

A transformação do Botafogo em SAF foi um processo complexo e desafiador, envolvendo reestruturação administrativa, investimentos significativos e gestão de dívidas. Apesar dos obstáculos, a SAF trouxe resultados positivos para o clube, tanto em termos financeiros quanto esportivos. O futuro do Botafogo depende da capacidade de continuar implementando estratégias eficazes para aumentar receitas e reduzir dívidas, garantindo a sustentabilidade a longo prazo. Em suma, a SAF é sempre algo complexo, tanto na implementação, manutenção ou até nas discussões referentes a soluções para o clube ou não, pois, há interesses de ambos os lados. Contudo, conseguimos ter ideias conforme vemos os times implementando e executando, e com isso, vemos mais sucessos do que fracassos.

Nos próximos artigos vamos trazer analise de SAF de outros times, como o Bahia, Cruzeiro e outros.

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